Por que o pessoal lá de baixo pensa que a gente aqui de cima morre de sede, tem o bucho cheio de verme, é feio, se veste mal e não entende de ciência, arte, política, música e coisas de 'elite'?
Lembro de certa vez, em um shopping no Rio de Janeiro onde eu olhava as prateleiras emudecida e quando perguntei o preço de um produto a vendedora (que quis me agradar, tadinha!), se vira e diz: "A senhora é de onde?" Eu naturalmente -e com muita satisfação- respondi: "De Recife." Ela então completa: "Se a senhora não falasse, se a gente não escutasse seu sotaque, diria que a senhora é daqui, porque é bonita e se veste bem." Nem vou dizer que fiquei surpresa, porque estaria mentindo. Nunca sofri preconceito em lugar nenhum por esse mundão afora, mas sei a ideia PRE concebida –e diga-se de passagem, errônea- que se tem do nordeste e consequentemente do povo nordestino.
Nem vou perder meu tempo e o seu falando da nossa comida, de Gonzaga, das praias, do calor e do brilho do sol que é bem coisa nossa. Também não vou ficar aqui divulgando nossas maravilhas porque certas coisas, contar não é ver. Vamos ao que importa.
Corino é como ele é chamado pela maioria-e acredito até que goste- é mineiro e foi um dos meus grandes ganhos nas andanças pela pacata e charmosa cidadezinha. É amigo, é querido, é parceiro, é carinho, é criança junto comigo nas horas de folga e adulto quando a vida pede que assim seja. Ele é um dos homens mais inteligente que eu tive o prazer de conhecer e conviver, e, como todo homem inteligente sabe a hora das coisas. Sabe quando é hora de reconhecer e mudar.
Ele era uma dessas pessoas lá de baixo, que via o nordeste como ‘terra rachada’, mas recentemente passou férias por aqui e descobriu o que é que o nordeste tem. E eu, claro, tive o prazer de conversando com ele escutar: “Seu nordeste é lindo demais!” Ora! Isso eu já sabia. Quem é nordestino mesmo sabe. Mas foi bom ouvir a constatação, porque pior do que ser preconceituoso, do que ser um mineiro marrento (porque isso é coisa de carioca. Mas dizem que todo mineiro tem um pouco de carioca, né? Será? Eu não sei! Isso é briga deles lá de baixo)... O pior mesmo é não saber a hora de mudar o prumo das coisas – seja a coisa que for-
Ele se encantou, mudou e agora é também um pouco nordestino.
Em homenagem a ele, que eu aprendi a amar com o tempo, me permito também virar a casaca. E viva o Vasco!




