Você sabe a sutil diferença entre o SUS e um Hospital Particular? Descobri recentemente, quando precisei me internar (de acompanhante) com minha irmã, que teve que passar sete dias em um desses “hotéis de luxo”, que a gente paga uma mensalidade e pede a Deus pra nunca precisar usar.
Por questões éticas, não citaremos o nome, mas se você é recifense, puxa da memória quem é o vizinho do HR (Hospital da Restauração). Pronto, agora que todo recifense já sabe do que se trata (os de localidades diferentes me desculpem, mas essa ética às vezes é chatinha mesmo), vamos retomar. Deixa eu responder a pergunta feita lá no começo.
A diferença está no ar condicionado e no granito.
Eu nunca vi tanta desconectividade no sistema. Enfermeira chefe não sabe que paciente agora só tem direito a acompanhante se este (o não enfermo) pagar um valor irrisório de 39,00 reais. Médicos despreparados, que mais parecem um HD –acumulam cada vez mais informações para transmiti-las sempre que preciso for- Alguns chegam pra visitar o paciente sem ter, sequer lido o prontuário. Opa! Detectamos mais uma falha no sistema hospitalar.
É claro que no meio dessa agonia toda, temos aqueles médicos humanizados. Esses se salvaram não sei como, mas sei que eles existem. Ah, existem. Eu mesma conheço uma porção... quatro ou cinco no máximo. Mas isso é detalhe pequeno de nós todos.
Vamos seguir... Vejam o prumo das coisas.
“Corre, fura aqui o outro braço da paciente do 107 porque o braço esquerdo cansou de receber “bomba”. Cadê a veia? Diz a enfermeira. Escapou? Responde a outra. Fura de novo em outro lugar, tenta o pescoço (ui!) e de furada em furada, mais constatações: o sistema realmente não funciona como deveria. Alguns podem dizer: “mas isso é Brasil! Isso é o que temos pra hoje na saúde –ainda que seja no sistema privado-” E eu, patriota, digo o quê? Defendo a pátria amada e idolatrada? (salve salve!!!)
O luxuoso adicionou algumas emoções indesejadas a doente e (especialmente) a acompanhante (no caso essa pessoa que vos fala), nesses últimos sete dias. Mas o que impressiona não é a falta de conexão entre as áreas, não é o desmantelo organizacional, mas o descaso com a saúde, com o doente, com a dor do próximo e essencialmente com a vida. É desumana a maneira fria e comercial como a coisa é conduzida.
Sobre a questão saúde, se me fosse perguntado hoje o que eu acho que deveria melhorar, eu diria, sem medo de errar: A qualificação profissional, a humanização, a estruturação emocional do ser humano, porque se a base não vai bem, desconjuntura todo o resto.
Voltando ao independência ou morte, que carinhosamente passei a chamar esse dia de doença e quase morte (7 de setembro, dia em que demos entrada no hospital), sentada, ainda na emergência, em pleno feriado, lia a propaganda do hospital que dizia em letras garrafais: “Aqui não temos preferência, temos prioridade.”
É meu amigo, se você tiver a (in)felicidade de chegar morrendo, pode ser que você tenha alguma prioridade, já que a possibilidade da preferência foi totalmente descartada. Mas deixa eu delirar um pouquinho (se quiser delirar comigo, venha. Fique a vontade). Já pensou a gente chegando no hospital/hotel e sendo recebido por um enfermeiro nos dando os primeiros socorros, ao invés daqueles empalitozados da recepção, que te pedem primeiro o cartão do plano de saúde e sua identidade pra só depois –bote depois nisso- te convidarem pra uma triagem? É sonho mesmo. Hora de acordar, meu povo.
Ah! Mas isso é a parte burocrática. Faz parte do sistema. Eu sei, você sabe, todo mundo sabe, mas dá pra pelo menos tentar humanizar mais esse tal sistema? Já que estamos lidando com gente (em geral com dores e incômodos. Quando não morrendo.)
De toda forma, se não dá pra mudar o sistema, muda de comportamento. Se informa, se protege com a lei, abre o bocão, não deixa te passarem a perna. Ô coisa pra me deixar aborrecida é quando percebo que querem me enganar, me passar pra trás. Num instante eu viro maisena (engrosso facinho, facinho).
Na maioria das vezes a gente deixa muito as coisas “pra lá”, passa por cima, faz que não vê, só pra evitar desgastes e conflitos. Mas olha, se a gente não estiver preparado, não se defender, o sistema nos engole brutalmente.
C.U.I.D.A.D.O!!!


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