Eu sou de 1983 e nessa época as coisas já eram mais modernosas. Mas a gente teve um período que foi ao mesmo tempo difícil e extremamente produtivo, não só para a história, mas também para a Música Popular Brasileira. Eu falo da Ditadura Militar, que marcou momentos e vidas por suas imposições e proibições, pela dureza que era viver e se expressar naquela época.
Eu não acho que o mundo precise hoje dos tempos de chumbo para minimizar a quantidade de mentes atrofiadas que estão se reproduzindo assustadoramente por esse mundão afora. Mas que alguma coisa precisa mudar.... ah, isso precisa.
Quem conhece um pouquinho de história conhece também alguns frutos musicais daquele período, porque graças a Deus, muitos deles vivem até os dias de hoje e acreditem, ainda tocam nas paradas de sucesso. São canções como Cálice, A Banda, Roda Viva e tantas outras que representavam muito mais do que protesto, elas retratavam quão inteligente nós somos, quanta capacidade de discernimento nós temos e como é bonito fazer Música, Arte, História.
Mas ai a gente liga a tevê, se conectar na internet e pronto...
Michel Teló e sua música “Ai, se eu te pego” leva o prêmio de melhor música do ano. E eu pergunto: Alguém pode me explicar o que significa isso? Como é que uma letra tão profunda, extremamente tocante, politizada, romântica ganhou só o prêmio de melhor do ano? Ela merecia o prêmio de melhor música dos 10 últimos anos. Melhor em ser a pior, claro!
Ai, meu Jesus! Ai meu Jesus!
O que mais me surpreendeu não foi a notícia e nem a qualidade da música (que é terrível), meu lamento maior foi constatar que as coisas só têm o valor e a importância que nós damos. E se Michel Teló faz sucesso com “Ai, se eu te pego” é porque isso tem ibope e se tem ibope, consequentemente tem público. Essa é a constatação mais sofrida.
E sabe quando isso vai mudar? Quando as pessoas mudarem, porque não havendo público não haverá produção de conteúdo com teor tão baixo, que chega a agredir a inteligência e o bom senso dos que ainda os tem. Nesse dia, Jobim, Cartola, Vinícius, Nelson, Elis e tantos outros compositores que já não estão mais aqui para contribuir com a mudança dessa triste realidade, vão certamente ter sossego, onde quer que eles estejam.
Porque a ditadura não precisa voltar pra revelar novos talentos, e nem a gente pra ser jovem precisa descer tanto o nível. Dá para associar juventude com responsabilidade, bom gosto, educação, respeito, sem, contudo, parecer careta. Mas se todas essas coisas estiverem fora de moda, meu caro, vai fundo, porque às vezes ficar “fora de moda” é a melhor coisa que pode te acontecer.

